Páginas

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Jornalismo Literário: Hiroshima

Às vezes eu me pergunto porque eu escolhi cursar jornalismo, uma profissão tão desvalorizada e mal compreendida, mas ao mesmo tempo tão importante para a sociedade. Entendo que, muitas vezes, os jornalistas não são um exemplo a se seguir pela sociedade. Mas quem nunca esteve na pele de um , não entende qual a responsabilidade de transmitir as informações e perspectivas, além de ser formador de opinião, para esta sociedade. O jornalismo atualmente é uma profissão difícil de se seguir, por dois simples fatores: Primeiro, a renda média de um jornalista em minha cidade, ou em qualquer lugar do Brasil,  nos dias fatídicos de hoje, é muito baixa. Segundo, não é necessário diploma para exercer essa profissão. Então, você se pergunta: Por que essa menina cursa jornalismo? Daí eu respondo: John Hersey, Tom Wolfe, Truman Capote, Gay Talese, etc... Esses autores me inspiram diariamente.

Esses são alguns dos autores de jornalismo literário mais conhecidos. O meu preferido é John Hersey. Esse moço aí escreveu Hiroshima, um livro que relata os bombardeios a cidade de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial, pela perspectiva de 6 personagens. Eles relatam o que aconteceu com eles, todo o sofrimento, o instinto de sobrevivência e a tristeza pós-bombardeio. O texto foi primeiramente publicado no Jornal The New Yorker em 1947. Durante todo o mês de agosto, foram publicados quatro partes: "Um clarão silencioso", "O fogo", "Investigam-se os detalhes" e "Flores sobre ruínas". Esses capítulos foram reunidos e mais tarde publicados no formato de um livro. Os livros atuais ainda contém um quinto capítulo, "Depois da catástrofe", que mostra como esses personagens estavam passados 40 anos. 

O artigo no jornal causou impacto em quem leu, principalmente por sua escrita tão reveladora e intensa. Esse tipo de jornalismo é sensacional, afinal o jornalista/autor, além de usar o conteúdo da fonte/personagem, consegue captar emoções pelos gestos e  expressões faciais. Não é apenas fazer perguntas, é transmitir para o papel tudo aquilo que o personagem vivenciou. John Hersey fez tudo isso com maestria. Lendo Hiroshima, eu me coloquei no lugar do Reverendo Kiyoshi Tanimoto e do Padre Wilhelm Kleinsorge (Makoto Takakura), de Hatsuyo Nakamura, lutando pela sobrevivência de seus filhos, pelo sofrimento físico de Masakazu Fujii e Toshiko Sasaki, após a queda da bomba, pela tristeza do jovem médico Terufumi Sasaki, que não podia ajudar ninguém mais. 

É um livro doloroso de se ler. É uma narrativa direta, o autor não faz rodeios para explicar que não havia como escapar da dor física e psicológica. Uma das partes mais chocantes são as descrições da falta de socorro aos feridos. Todos estão tristes e impotentes. 
A situação do Dr. Fujii, do Dr. Kanda e do Dr. Machii — e, por extensão, da maioria dos médicos de Hiroshima — logo após a explosão, com seus consultórios e hospitais destruídos, seu equipa mento disperso, seus próprios corpos incapacitados em diferentes graus, explica por que tantos feridos não receberam cuidados e por que morreram tantos cidadãos que podiam ter sido salvos. Dos 150 médicos existentes em Hiroshima, 65 estavam mortos e os restantes se encontravam, na maioria, feridos. Das 1780 enfermeiras, 1654 estavam igualmente mortas ou impossibilitadas de agir. No hospital da Cruz Vermelha, o maior da cidade, apenas seis médicos de uma equipe de trinta, e dez enfermeiras, dentre mais de duzentas, tinham condições de trabalhar. O Dr. Sasaki era o único médico desse hospital que escapara ileso.
É um relato jornalístico escrito com alma e coração. Uma busca de mais e mais informações para compor algo digno de ser apreciado por leitores ávidos de uma boa história, uma boa escrita, com informação para os fazer crescer como pessoas. Atualmente, o mercado do jornalismo literário vem crescendo, e é interessante perceber como ele é atrativo. "Holocausto Brasileiro", escrito por Daniela Arbex, é um exemplo. Daniela descreve em seu livro, como um hospício em Barbacena, Minas Gerais, foi durante a maior parte do século XX um lugar bárbaro, onde pacientes eram maltratados e a sociedade ficava calada. Um livro que denuncia o que muitas vezes ocorre nos dias de hoje. Futuramente o livro terá um resenha neste blog.

Outro livro com teor jornalístico que também terá sua resenha postada futuramente aqui, é The Bling Ring - Gangues de Hollywood. O livro, escrito por Nancy Jo Sales, relata a história de jovens que roubavam casas de famosos em Los Angeles e foi adaptado para o cinema, com a direção de Sofia Coppola. Ele também saiu de um artigo que Nancy escreveu para um jornal em L.A.

É esse jornalismo literário que mostra que nós, jornalistas, não somos apenas sensacionalistas ou manipuladores. Nós, os idealistas e amantes da profissão, buscamos nos aprofundar na notícia e transmitir isso ao leitor. Estou engatinhando ainda na profissão, quem sabe um dia já eu consiga correr nesta direção? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário