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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Misto - Quente




Charles Bukowski é  um desses autores que são amados, ou odiados. Depois de ler alguns poemas e  um romance, e entender o conceito do autor, cheguei a conclusão de que sim, Bukowski é fenomenal. O motivo? Primeiramente sua escrita transmite uma veracidade e transparência, que  faz o leitor acreditar que está na cabeça do autor, que por sua vez não quer esconder nada. E pensando nisso, vamos ao segundo motivo: Bukowski é sincero; suas opiniões -  principalmente sobre sua maior temática, as mulheres - são autênticas. Ele realmente ama falar das mulheres, principalmente de suas "curvas", que ele adora descrever da forma mais mais detalhada possível. Ele as ama e as odeia ao mesmo tempo, busca sempre por beijos e carinhos, depois as despreza por serem loucas e lunáticas. Ele ama a todas, mas foge sempre de algo que seja real. Por isso é chamado de "Velho Safado", mas um velho safado que pelo menos é sincero. 

A maioria dos escritos de Bukowski possui traços autobiográficos "Misto -  Quente" retratada a vida de Henry Chinaski, um garoto de origem alemã que nasceu nos Estados Unidos, após a quebra da bolsa de 1929. Com uma mãe completamente passiva e um pai violento e lunático, Henry tem que viver em um bairro pobre, com pais que desejam desesperadamente se passarem por ricos para a comunidade local. O resultado é uma criança isolada das outras, introspectiva e um pouco bruta. Quando cresce, sua adolescência é recheada de socos, álcool e espinhas, além da intolerância de seu pai e a falta de perspectiva de um bom futuro.  

Henry é um personagem que conta sua história com simplicidade e verdade, buscando em vão a dignidade da vida. Ele acaba por cativar o leitor por essa sinceridade e pelas coisas divertidas, e retardadas, que acaba fazendo e dizendo. Sua criação reflete no adulto que ele acaba se tornando, problemático, sem perspectiva e solitário. Sua família é tudo que uma família não deveriam ser. A mãe é submissa e maluca, chegando a tentar exorcizá-lo para acabar com as espinhas. Seu pai é grosso, ignorante e adora bater nele, mesmo sem nenhum motivo aparente. Sua única válvula de escape é a escrita e a bebida, o que o aproxima demais de Bukowski.

"Misto quente" é o quarto romance dos seis que Charles Bukowski escreveu. Eu apenas li este, mas foi o suficiente para colocar o autor entre os meus favoritos. Merece ser respeitado. 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Holocausto Brasileiro



"Holocausto Brasileiro" foi uma das revelações da literatura no ano de 2013. Daniela Arbex, a partir de uma pesquisa que começou em 2009,  escreveu um livro doloroso e esclarecedor, que começa em 1903. Foi nesse ano que o Hospital Colônia de Barbacena iniciou seus trabalhos. O maior hospício do Brasil não prezava pela melhora de seus pacientes, cerca de 60 mil pessoas morreram pela precariedade e as condições desumanas do hospital. 

Em vez de receber realmente pacientes que necessitavam de ajuda médica para suas condições mentais, a Colônia recebia aqueles que a sociedade desprezava, aqueles que necessitavam sumir das ruas. Prostitutas, moradores de ruas, filhas que tinham perdido sua virgindade antes do casamento, mulheres grávidas de seus patrões,... Esses eram os pacientes que dormiam em cima de capim; uma solução do governo da época que não conseguia arrumar leitos para os 5.000 pacientes, levando em conta que o lugar projetado para 200 pessoas; passavam frio e fome, não comiam direito; bebiam água do esgoto e andavam nus pelo hospital. 

Realmente, o Hospital Colônia foi um genocídio brasileiro, onde pessoas foram tratadas como animais e objetos. O livro é construído a partir de personagens que passaram pelo hospital, seja pacientes, médicos, funcionários, e durante a leitura o leitor começa a sentir as dores e o desespero dessas pessoas que foram obrigadas a entregar seus filhos, trabalhar forçado, a se calar em meios as injustiças. "Holocausto Brasileiro" vai caminhando década a década  na história do hospital, mostrando toda a luta de médicos psiquiatras para  melhorar as condições do lugar.

É um livro é doloroso e triste. Daniela escreve de forma clara e objetiva, sem se abster de fatos chocantes e hediondos, como a boa jornalista que é. Ao mesmo tempo, ela consegue passar o seu próprio pesar pelo ocorrido. Já assisti a variadas entrevistas dela,  a  palestras e depoimentos, e posso afirmar que ela também sofreu para escrever esse livro. Ela tinha acabado de ter um filho, e foi atrás de história de mães que tinham que passar fezes em suas barrigas para não descobrirem que estavam grávidas e perderam seus filhos. Não sou mãe, não consigo nem imaginar a dor de perder um filho, mas lendo o livro eu consegui sentir um pouquinho essa dor. 

Daniela Arbex é minha conterrânea, de Juiz de Fora. Formada na mesma universidade na qual eu estudo, ela é um exemplo a se seguir, tanto como jornalista, como escritora. Seu livro é brutal, cada personagem perdeu tudo na vida, por motivos mascarados de pessoas insensíveis. Esse livro merece ser lido para que isso não se repita, nunca mais. Essas histórias acabam denunciando algo que estava a muito esquecido na história brasileira. Porque Barbacena era considerada a cidade dos loucos? Poucos sabiam, poucos entendiam a expressão "trem de louco". Agora, nunca mais quero ouvir, ou a usar. 



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O Poderoso Chefão




Em 1968, a Paramount Pictures ganhou os direitos de adaptar para o cinema o livro, “The godfather”. Depois de vários diretores cinematográficos rejeitarem o projeto, o nome de Francis Ford Coppola foi ressaltado. Inicialmente o diretor  não queria adaptar o livro de Mario Puzzo, por temer a idolatria que o filme poderia causar a máfia e a violência, além do preconceito que poderia proporcionar para os sicilianos e italianos imigrantes no EUA. Porém, ele acabou aceitando o trabalho e criando uma das obras primas do cinema, que é “O poderoso Chefão”.

Mas dessa vez, não quero falar do filme. Quero falar do livro. Um livro riquíssimo, bem estruturado, com personagens cativantes e inteligentes, com uma estrutura de texto que não deixa o leitor cansado nem entediado. Quero falar de um livro que fala de máfia com ela supostamente deve ser, que tem uma temporalidade imposta no enredo que não se percebe ao lê-lo. Um livro que, por mais que pareça, não tem só violência. Tem um pouquinho de gratidão, amor, romance, gente bondosa, comilona, que supera desafios, que sabe ser leal. (Vulgo, gente italiana). Também tem personagens maldosos, vingativos, irados, violentos e grotescos, que fazem de tudo para conseguirem o que querem. Confesso que esses são a maioria.

Mas então vamos ao enredo. Estamos em meados de 1950. Quem domina a maior parte dos jogos de azar das ruas de Nova York é Dom Vito Corleone, o líder da maior família mafiosa que comanda a área. Um belo dia, o "comerciante" Sollozzo, solicita uma conversa com o Dom Corleone e pede a ele a proteção para o comércio de narcóticos na área. Corleone nega, por princípios morais e motivos políticos, e as consequências da negação são levadas durante décadas a fio, sendo a solução muitas vezes encontradas pelos 2 filhos de Corleone; o bruto e inconsequente Sonny, e o inteligente e sagaz Michael.

“O Chefão” é um livro interessante de ser ler, ainda mais para que já viu o filme. Não vou tentar desvincilhar filme e livro nesse texto, porque eu li o livro imaginando Orlando Bloom como Dom Corleone e Al Pacino com Michael. Eu vi todas as cenas do filme lendo o livro, o que foi uma experiência interessante, pois rememoriei cada detalhe das cenas do filme. Mas claro que o livro traz detalhes adicionais, e o mais interessante, é que o autor fala de cada personagem, não esquecendo de ninguém. Citou alguém no início do livro, ele retoma a história do personagem em alguma parte. Todos os personagens, dos principais aos mais
secundários, tiveram a resolução de suas vidas. Nem sempre essas resoluções foram felizes, há muito sangue e sofrimento pelo caminho.

Sem mais delongas, o primeiro livro que li no ano me deu animo para continuar a ler freneticamente. Coloca na sua listinha aí, vale a pena! E é válido também ver os filmes, que por mais que durem 2 ou 3 horas, são sensacionais! (Ainda me falta a coragem de ver o último, que só tem três horas e meia... haha)