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sábado, 2 de fevereiro de 2013

A vida que ninguém vê



“A vida que ninguém vê”, de Eliane Brum, é recheado de histórias bem escritas e interessantes. As crônicas reunidas no livro começaram a ser publicadas em 1999, no jornal gaúcho Zero Hora, sempre contando com personagens do Rio Grande do Sul.

De maneira leve, mas ao mesmo tempo crítica, a autora traça perfis de pessoas simples, pouco conhecidas, mas que são o ponto central em seus próprios mundos. São cidadãos de bem, alguns um pouco diferentes do comum, lutando pelo que acham certo e por um pouco mais de dignidade na vida.

Poderíamos dizer que Eliane consegue enxergar a essência de seus entrevistados e traz isso para o papel. Seus textos transmitem de forma clara, e ao mesmo tempo poética, os fatos ocorridos com os personagens, sem deixar de lado as informações jornalísticas e as críticas sociais. Como ela mesma diz, muitos de seus personagens centrais são ignorados quando vistos nas ruas, marginalizados pela sociedade e invisíveis aos nossos olhos. São figuras que guardam dentro de si muitas histórias e lutas, mas que poucas vezes possuem a chance de se expressarem. Eliane deu essa chance a eles.

Seja um carregador de malas, um vendedor que incomoda todo mundo com seus gritos, um mendigo gente boa, um pai necessitado, um menino com dificuldades para se locomover, uma professora que deu vida a uma criança... Todos eles tiveram sua história contada.  Conhecemos essas pessoas a fundo e compartilhamos com elas algumas dores, surpresas e alegrias. Perfilhamos a fundo as curiosidades de suas vidas e as bizarrices cometidas por muitos. E pudemos ver algo além deles, algo que a autora passou para nós, a visão dela dos acontecimentos.

Os perfis traçados por Eliane conseguem configurar bem as pessoas, que são descrita, psicologicamente, pessoalmente ou profissionalmente, dependendo do foco que a autora quer fornecer ao seu texto. Mas na maioria dos textos o que prevalece são os sonhos dos personagens, de terem uma vida melhor e serem reconhecidos pela sociedade.

 Esse livro de jornalismo literário de Eliane Brum deve ser apreciado. Despojado, delicado e simples, talvez um pouco sensacionalista, mas nada agressivo. Para que traçar perfis de personagens já conhecidos por todos e que não possuem nenhuma similaridade com a vida da maioria das pessoas? É mais interessante o que Eliane bravamente se propôs a fazer, criar algo novo.

Diante de tantas obras literárias por aí, é imprescindível que todos nós tenhamos contato com esse livro, gostando ou não. Afinal, nem tudo que é de interesse coletivo, mas o conhecimento de novas formas de escrita e leitura são essenciais para todos.

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