“A
vida que ninguém vê”, de Eliane Brum, é recheado de histórias bem escritas e interessantes.
As crônicas reunidas no livro começaram a ser publicadas em 1999, no jornal
gaúcho Zero Hora, sempre contando com personagens do Rio Grande do Sul.
De
maneira leve, mas ao mesmo tempo crítica, a autora traça perfis de pessoas
simples, pouco conhecidas, mas que são o ponto central em seus próprios mundos.
São cidadãos de bem, alguns um pouco diferentes do comum, lutando pelo que
acham certo e por um pouco mais de dignidade na vida.
Poderíamos
dizer que Eliane consegue enxergar a essência de seus entrevistados e traz isso
para o papel. Seus textos transmitem de forma clara, e ao mesmo tempo poética,
os fatos ocorridos com os personagens, sem deixar de lado as informações
jornalísticas e as críticas sociais. Como ela mesma diz, muitos de seus
personagens centrais são ignorados quando vistos nas ruas, marginalizados pela
sociedade e invisíveis aos nossos olhos. São figuras que guardam dentro de si
muitas histórias e lutas, mas que poucas vezes possuem a chance de se
expressarem. Eliane deu essa chance a eles.
Seja
um carregador de malas, um vendedor que incomoda todo mundo com seus gritos, um
mendigo gente boa, um pai necessitado, um menino com dificuldades para se
locomover, uma professora que deu vida a uma criança... Todos eles tiveram sua
história contada. Conhecemos essas
pessoas a fundo e compartilhamos com elas algumas dores, surpresas e alegrias. Perfilhamos
a fundo as curiosidades de suas vidas e as bizarrices cometidas por muitos. E
pudemos ver algo além deles, algo que a autora passou para nós, a visão dela dos
acontecimentos.
Os
perfis traçados por Eliane conseguem configurar bem as pessoas, que são
descrita, psicologicamente, pessoalmente ou profissionalmente, dependendo do
foco que a autora quer fornecer ao seu texto. Mas na maioria dos textos o que
prevalece são os sonhos dos personagens, de terem uma vida melhor e serem reconhecidos
pela sociedade.
Esse livro de jornalismo literário de Eliane
Brum deve ser apreciado. Despojado, delicado e simples, talvez um pouco
sensacionalista, mas nada agressivo. Para que traçar perfis de personagens já
conhecidos por todos e que não possuem nenhuma similaridade com a vida da
maioria das pessoas? É mais interessante o que Eliane bravamente se propôs a
fazer, criar algo novo.
Diante
de tantas obras literárias por aí, é imprescindível que todos nós tenhamos contato com esse livro, gostando ou
não. Afinal, nem tudo que é de interesse coletivo, mas o conhecimento de novas formas
de escrita e leitura são essenciais para todos.
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