"Holocausto Brasileiro" foi uma das revelações da literatura no ano de 2013. Daniela Arbex, a partir de uma pesquisa que começou em 2009, escreveu um livro doloroso e esclarecedor, que começa em 1903. Foi nesse ano que o Hospital Colônia de Barbacena iniciou seus trabalhos. O maior hospício do Brasil não prezava pela melhora de seus pacientes, cerca de 60 mil pessoas morreram pela precariedade e as condições desumanas do hospital.
Em vez de receber realmente pacientes que necessitavam de ajuda médica para suas condições mentais, a Colônia recebia aqueles que a sociedade desprezava, aqueles que necessitavam sumir das ruas. Prostitutas, moradores de ruas, filhas que tinham perdido sua virgindade antes do casamento, mulheres grávidas de seus patrões,... Esses eram os pacientes que dormiam em cima de capim; uma solução do governo da época que não conseguia arrumar leitos para os 5.000 pacientes, levando em conta que o lugar projetado para 200 pessoas; passavam frio e fome, não comiam direito; bebiam água do esgoto e andavam nus pelo hospital.
Realmente, o Hospital Colônia foi um genocídio brasileiro, onde pessoas foram tratadas como animais e objetos. O livro é construído a partir de personagens que passaram pelo hospital, seja pacientes, médicos, funcionários, e durante a leitura o leitor começa a sentir as dores e o desespero dessas pessoas que foram obrigadas a entregar seus filhos, trabalhar forçado, a se calar em meios as injustiças. "Holocausto Brasileiro" vai caminhando década a década na história do hospital, mostrando toda a luta de médicos psiquiatras para melhorar as condições do lugar.
É um livro é doloroso e triste. Daniela escreve de forma clara e objetiva, sem se abster de fatos chocantes e hediondos, como a boa jornalista que é. Ao mesmo tempo, ela consegue passar o seu próprio pesar pelo ocorrido. Já assisti a variadas entrevistas dela, a palestras e depoimentos, e posso afirmar que ela também sofreu para escrever esse livro. Ela tinha acabado de ter um filho, e foi atrás de história de mães que tinham que passar fezes em suas barrigas para não descobrirem que estavam grávidas e perderam seus filhos. Não sou mãe, não consigo nem imaginar a dor de perder um filho, mas lendo o livro eu consegui sentir um pouquinho essa dor.
Daniela Arbex é minha conterrânea, de Juiz de Fora. Formada na mesma universidade na qual eu estudo, ela é um exemplo a se seguir, tanto como jornalista, como escritora. Seu livro é brutal, cada personagem perdeu tudo na vida, por motivos mascarados de pessoas insensíveis. Esse livro merece ser lido para que isso não se repita, nunca mais. Essas histórias acabam denunciando algo que estava a muito esquecido na história brasileira. Porque Barbacena era considerada a cidade dos loucos? Poucos sabiam, poucos entendiam a expressão "trem de louco". Agora, nunca mais quero ouvir, ou a usar.