Acabei de comprar meu eReader e ele está a caminho da minha casa. Mas por que o comprei? Existem tantos livros que quero ler, mas não tenho condições financeiras de comprá-los e, por isso, acabou sendo mais fácil baixá-los em forma de ebooks. Como ler em frente ao notebook é cansativo, o eReader foi a melhor solução.
A revolução digital está causando um grande impacto na literatura mundial e o Brasil não está longe dessa revolução. Editoras já se preparam para o grande impacto que os livros digitais vão causar, ou já estão causando, no mercado nacional. Pensando nisso, trago uma entrevista com Massimo di Felice, Italiano, Sociólogo, Doutor em Comunicação e professor na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), retirado do site Revolução Ebook.O livro digital já faz parte de uma cultura digital integrada por pessoas conectadas ou ainda precisa encontrar uma maneira de se adequar às novas práticas de leitura, de aquisição e de compartilhamento de informação e conhecimento?
Muda ainda de lugar a lugar, mas é claramente uma tendência irreversível… os hábitos mudam, e estão mudando rapidamente. Muitas coisas estão a favor do livro e da leitura digital: em primeiro lugar a facilidade de sua aquisição, num contexto no qual pela grande distribuição é cada vez mais difícil encontrar o livro que se quer, como também a facilidade de aquisição de obra em outros idiomas, práticas hoje comuns num contexto globalizado. E, também, não por ultimo, o menor custo e a praticidade de ler e poder levar consigo um grande número de livros num único, leve e prático, suporte de leitura. Tudo isso nos diz com clareza que o processo é irreversível e rápido.
Um dos maiores entraves para a consolidação do livro digital é encontrar a solução para o compartilhamento e a pirataria. Essa seria a resposta de ouro para as editoras. O uso de DRMs é comprovadamente ineficaz. Como utilizar a cultura dos “shares” como aliada estratégica dos negócios, e não como inimiga?
É preciso pensar mais seriamente e profundamente sobre o que é chamado de “pirataria”, o formato digital altera todas as fases do processo tipográfico: da produção, à distribuição e o consumo, nada ficou como era. Este é um ponto fundamental, as editoras deveriam refletir mais seriamente sobre o que está acontecendo desde um ponto de vista social e cultural e não apenas desde um ponto de vista econômico, uma vez que o tipo de produto que elas produzem é um produto particular, que tem a ver com a cultura, seu acesso e sua divulgação. As editoras devem sair da sua situação de conforto e adquirir uma postura mais empreendedora. O que a digitalização dos livros (de seus textos e do seu processo de produção, distribuição e consumo) vai a provocar é algo próximo ao que aconteceu com a invenção de Gutenberg no século XV. Nada vai ficar igual, trata-se de algo qualitativo e não apenas de uma simples adaptação. As universidades, as escolas estão sendo alteradas por este processo, consequentemente, as editoras devem passar a repensar a si mesmas não apenas como produtoras de livros, mas como produtoras de conteúdos, isto é, de formatos informativos digitais. Quero sublinhar este aspecto: volto a remarcar que se trata de uma questão cultural e social de um lado e empreendedora do outro. As duas questões estão ligadas e não em contraposição, como geralmente se acha. Um dos lados mais interessantes da história da cultura empreendedora é a sua propensão a assumir riscos, como faziam os primeiros mercadores e como devem fazer as editoras hoje… deixar de pensar apenas em seu próprio umbigo, assumir riscos e mostrar grandeza, é esta a natureza da questão digital, como a de todas as inovações, perante as quais, historicamente, somos chamados a assumir uma posição: a de recusa ou a da aceitação do desafio que esta nos impõe.
Uma das principais preocupações das editoras, plataformas e livrarias virtuais é encontrar um modelo de negócios não apenas viável, mas também lucrativo para o livro digital. As vendas estão crescendo, mas em um ritmo não muito acelerado – no Brasil, a oferta de títulos digitais é de apenas 25 mil ebooks. O que falta é o modelo de negócios certo ou uma mudança de comportamento, mais alinhada com a realidade digital?
Acho que é só uma questão de tempo. A Amazon acabou de chegar no pais, em todos os países onde chegou demorou dois ou três anos para transformar por inteiro o mercado do livro. No Brasil não será diferente.
Você defende que a leitura digital é mais sustentável em relação aos impressos – não apenas no sentido da economia de papel, mas na redução instantânea dos custos de distribuição e transporte. Mas a produção de tablets e eReaders em larga escala também não seria insustentável por utilizar fornecedores que exploram mão-de-obra barata, por exemplo? Por outro lado, a distribuição de conteúdo digital está centrada na capacidade dos datacenters, grandes consumidores de energia. Como assentar esse ecossistema digital sobre paradigmas realmente sustentáveis, que não gerem passivos ambientais?
Discordo completamente. A cultura digital, a da conectividade, é responsável pela criação e pela difusão da cultura da sustentabilidade. No meu último livro, Redes Digitais e Sustentabilidades, (S. Paulo 2012, Ed. Annablume) abordo esta temática com precisão. A cultura ecológica contemporânea, que nos sensibiliza sobre consumo energético, impacto e pegadas é resultado do advento de uma cultura da conexão que nos brinda com a difusão do conceito de rede. Este conceito, responsável pela difusão de novas praticas, faz com quem nós hoje passemos de um modelo ecológico separatista e dialético (homen-natureza) para um modelo ecológico conectivo e reticular. A exploração de mão de obra barata como o grande consumo de energia não são os elementos constituidores e estruturais do processo mas apenas aspectos negativos que mostram o seu mal funcionamento. A energia pode ser renovável, e as relações de trabalhos melhoradas. A questão é: quem contribui mais para que isso mude, os jornais, a mídia tradicional, ou as redes digitais e os social networks?
Se temos uma maior consciência mundial ecológica hoje, devemos isso à circulação de informações nas redes digitais e a cultura da conectividade que aprendemos a desenvolver nelas. A sustentabilidade é um produto da cultura digital.
Entrevista realizada por Eber Freitas, em 11 de junho de 2013.
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